Dólar e Ibovespa oscilam após condenação de Bolsonaro: o que mexeu com o mercado hoje
A condenação de Jair Bolsonaro pelo STF e o risco de reações externas mantiveram o mercado brasileiro em modo “vai-e-vem” ao longo desta sexta-feira. Dólar e Ibovespa oscilaram com mudanças de direção intradiárias, enquanto investidores monitoraram falas políticas, dados econômicos e movimentações do Banco Central. A seguir, um raio-X do dia com contexto, cronologia e leitura dos impactos.
Contexto: política no centro do radar
A Primeira Turma do STF concluiu o julgamento e condenou Bolsonaro por cinco crimes, com pena definida em mais de 27 anos de prisão, elevando o ruído político e alimentando apostas sobre reações diplomáticas e econômicas. No front externo, declarações do governo dos EUA sobre “responder adequadamente” ao desfecho ampliaram a cautela local. Na véspera, a Bolsa havia fechado em máxima histórica, o que também favoreceu movimentos de realização de lucroshoje.
Cronologia do pregão: do “risk-off” ao ajuste
- Abertura: o dólar começou o dia levemente em alta perto de R$ 5,40, refletindo um primeiro giro de aversão a risco.
- Virada da manhã: conforme o fluxo e os sinais do BC foram aparecendo, a moeda perdeu força e chegou a operar no campo negativo (região de R$ 5,38), enquanto o Ibovespa alternou entre alta e baixa ao redor dos 143 mil pontos.
- Meio da manhã: o BC ofertou linha de US$ 1 bi (venda com recompra) para rolagem, ajudando a suavizar a pressão no câmbio; também houve divulgação do setor de serviços do IBGE (alta moderada), compondo um pano de fundo macro neutro para a atividade.
- Setorial: Petrobras avançou apoiada pelo petróleo Brent em alta, Vale oscilou junto ao minério de ferro, siderúrgicas cederam e bancos realizaram lucros após a forte contribuição ao recorde da véspera. Nos DIs, juros futuros oscilaram com viés de alta em alguns vértices, refletindo prêmio de risco e cautela.
O que, de fato, moveu preços hoje
- Risco político doméstico
A condenação com pena definida adiciona prêmio de risco de curto prazo: traders ajustam posições para cenários de maior barulho institucional e de eventuais agendas legislativas travadas. A precificação não é linear — parte do mercado já carregava esse risco; por isso as reações foram oscilantes, não unidirecionais. - Risco geopolítico/comercial
Sinais de possível resposta dos EUA ao desfecho do julgamento mantiveram o humor mais contido. Qualquer retórica que soe como mudança de tratamento comercial ao Brasil é lida, no primeiro momento, como negativa para ativos locais (bolsa, câmbio e curva de juros), ainda que o canal de transmissão seja incerto. - Fatores técnicos da Bolsa
Depois de recorde histórico no pregão anterior, o índice entrou em realização natural. Em paralelo, rotação setorial: petróleo firme ajudou Petrobras; bancos corrigiram; siderurgia e alguns cíclicos cederam. A liquidez intradiária reforçou movimentos rápidos de abre-e-fecha em leilões de alta volatilidade. - Macro do dia
- Serviços do IBGE: expansão modesta, sem surpresa — não muda o call macro, mas tira combustível de movimentos extremos.
- BC no câmbio: a linha de US$ 1 bi fornece “ponte” de liquidez e ancora expectativas no curto prazo; não é defesa de nível, é gestão de fluxo.
- Exterior: bolsas nos EUA em compasso suave de espera por corte de juros do Fed na próxima semana, o que limita a aversão a risco global e evita estresse maior por aqui.
Leitura por classes de ativos
- Câmbio (USD/BRL): começou comprado (medo/política), virou para queda com fluxo e atuação do BC, e oscilou em faixa estreita no final da manhã. O recado: o balanço de riscos permanece assimétrico, mas a liquidezfornecida e o “resto do mundo” mais benigno freiam exageros.
- Bolsa (Ibovespa): alternou sinais perto de 142–143 mil, testemunhando realização pós-recorde e reprecificação de riscos. Petrobras ajudou o índice; bancos e siderurgia pesaram.
- Juros (DIs): levemente pressionados nos médios/longos, refletindo prêmio político e cautela com o quadro fiscal. A ancoragem depende do próximo Copom e do tom do Relatório de Inflação.
5 perguntas que o mercado vai tentar responder nos próximos dias
- Haverá alguma medida concreta dos EUA ou o tom fica apenas na retórica?
- Fluxo estrangeiro segue positivo para Bolsa após a correção de hoje?
- BC volta a usar instrumentos de câmbio (swap/linha) de forma mais recorrente ou hoje foi pontual?
- Fed confirma corte de juros e melhora o apetite por risco em emergentes?
- Agenda doméstica: há risco de paralisia legislativa que afete fiscal e reformas micro?
O que observar no curto prazo (checklist prático)
- Commodities: petróleo e minério (direcionais para Petrobras/Vale).
- Setor financeiro: beta do índice; movimentos em bancos definem “resistência/suporte” do Ibovespa.
- Curva de juros: inclinação nos longos (DI27+); prêmio de risco político aparece primeiro ali.
- Atuação do BC: novos leilões/linhas? PTAX intradiária?
- Fluxos: saldo de estrangeiro na B3 e ETFs (EWZ).
Conclusão
A condenação de Bolsonaro adicionou ruído e prêmio de risco, mas a reação do mercado foi não linear: o dólar virou para queda ao longo da manhã, enquanto o Ibovespa hesitou entre realização e tentativas de alta, nessa faixa de 142–143 mil pontos. O pano de fundo externo, com Fed favorecendo cortes, e as ações técnicas do BC ajudaram a limitar movimentos mais agudos. A fotografia de hoje é de cautela com viés construtivo, desde que não surjam choques adicionais no front diplomático ou fiscal.